Diz, dizer!

23742aaebe241c8f00890360f404b56bA carne já não anda sob o domínio da razão. Algo da escolástica faz um corpo ionizado andar pelas ruas, através das casas, dos ocos becos e das frandes salpicadas de união.Tentemos ,pois, não se aproximar do ponto ápice das linhas amerígenas que unta o cal à parede. Eu tento… Me desvio, através de um odor verde, buscando pelos sentidos algo que expresse a aparente lógica. Fujo dos magnetismos compostos, dos objetos espetaculares do cotidiano, para não ser cotidiano, como o saboroso cheiro de café posto à mesa.

Vou remoendo as vozes da cabeça, mastigando-as tardiamente, vejo as minhas presas – meus grossos dentes tal qual um primata dentro da pintura do Klimt. Os olhos se curvam antes de cair no buraco da tela turva, em branco, que agora surgiu. Externamente observo a mistura de cores que a microfísica compõem com as tintas, caídas sob o borrão através do erro de 90º que o meu cotovelo, conscientemente em si, derrubou.

Estou nesse terceiro olho do furacão, agora eu me observo dentro da perspectiva do observado- Velásqueneio.

Volto da nata para a origem aborígene, quero pensar. Ouço um grito, o meu próprio eco sagrando debaixo do tubo da tv.

“É tudo tão violento”– penso. Adormeço esquecido de regar as plantas, esqueço as flageladas bolhas de silêncio.

Quero citação “bonita” daquilo que não leio, quero flores amarelas e medrosas no túmulo de Drummond:

“Através” de seu inimigo, o matador araweté vê-se ou põe-se como inimigo, “enquanto” inimigo. Ele se apreende como sujeito a partir do momento em que vê a si mesmo através do olhar de sua vítima, ou antes, em que ele pronuncia sua própria singularidade pela voz do outro. Perspectivismo.” (de Castro, Eduardo Batalha Viveiros. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. p. 160).

Estou antropofagicamente elétrico, não fumo cigarro, mas neste momento risco o fósforo e deixo ele se assim- é-ser. A luz posta, alegre e vibrante caindo no apagão. O chiado feito, feito a estação de AM.

Agora que eu já me sinto vivo, minha acepção do que é andar. Caio numa nova reencarnação voluntária e antes, numa casca e dourada que o tempo, só por ele construiu; me nutro em dizer.

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